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Adriano, ‘João de Deus’ terá alta social do Hospital de Patos, mas seu futuro ainda é incerto

17/10/2018 às 11:10

Adriano Teixeira Lima, popularmente conhecido como ‘João de Deus’, vai ter alta social do Complexo Hospitalar Regional Dep. Janduhy Carneiro de Patos (CHRDJC), na próxima semana. De alta médica há mais de 15 dias, ele permanece na unidade de saúde, onde foi internado no dia 30 de agosto último, por decisão da Justiça que determinou a permanência do paciente, mesmo sem necessidade de cuidados médicos intensivos, pelo fato dele não ter, até então, parentes conhecidos, nem apoio de qualquer espécie de órgãos governamentais. Uma audiência realizada nesta terça-feira (16), na Promotoria de Justiça de Patos, sob mediação do 3º Promotor de Justiça, Elmar Thiago Pereira de Alencar, autorizou a alta social e definiu alguns encaminhamentos.

Mas, essa alta social do hospital, que significa o começo de uma nova vida para Adriano, está longe de resolver os problemas dele. Primeiro porque as irmãs dele, Maria Sara da Conceição e Maria Luciana da Conceição, que foram localizadas graças a uma reportagem, onde ele revelou detalhes de sua vida, e que também compareceram a audiência, não têm condições financeiras, nem de infraestrutura para acolhê-lo onde moram, respectivamente, nos estados de Alagoas e Piaui. O resto da família, poucos membros, que vivem no interior alagoano também vivem em condições de extrema vulnerabilidade social, inclusive, com problemas relacionados a alcoolismo.

O que fazer então? Diante da situação, a representante comercial Luciana Pereira, uma das integrantes da força tarefa que o resgatou das ruas, maltrapilho e muito doente e que, diariamente, desde sua internação, visita Adriano no Hospital, dando apoio e cuidados, ofereceu a sua casa para que Adriano e uma de suas irmãs possam passar os próximos 45 dias até que a situação dele tenha uma solução definitiva. “Não vi outra alternativa. Fiz isso porque desde o início me propus a ajudá-lo. É uma questão de humanidade. Sabe quando você olha para uma pessoa e sente que ela precisa de você, de uma ajuda, de uma mão amiga. Não tenho muito, mas minha formação cristã não me deixa ficar omissa diante de uma situação desta”, disse Luciana, que vai ceder o quarto de um dos filhos, ela tem três, para dar espaço para Adriano e sua irmã durante esses 45 dias.

Nesse meio tempo, a Secretária de Ação Social de Patos, Edjane Barbosa Araújo, que também participou da audiência no MP, assumiu o compromisso de disponibilizar a rede de proteção assistencial do município, seja mediante a inclusão em programas de aluguel social ou de benefício de proteção continuada, através do CAPs II, e ainda com ações de assistência durante todos os dias úteis, inclusive, se responsabilizando pelo transporte e alimentação de Adriano, de segunda a sexta-feira, nos próximos 45 dias, a contar da data da alta social. Durante esse período, quinzenalmente, a equipe do CAPs terá que apresentar relatórios a Promotoria sobre as ações de inclusão e acompanhamento médico de Adriano e no final do prazo emitir parecer que balizará o encaminhamento do MP, no sentido de promover uma ação de interdição ou não. Isto porque, Adriano, ainda não se sabe, mas suspeita-se, apresenta problemas mentais que só exames mais aprofundados poderão ditar o diagnóstico.

A diretora geral do Hospital, Liliane Sena, também presente à audiência, confirmou a alta hospitalar de Adriano e o fato dele não ter mais necessidade de cuidados médicos intensivos e hospitalares, mas concordou com a permanência dele por mais uma semana, até a alta social. “Vamos continuar acolhendo-o por mais esse período. Essa é até uma questão de humanidade”, assegurou Liliane.

Mas, quem pensa que o caso de Adriano está perto de ter um final feliz. Engana-se. As cicatrizes que ele agora carrega no corpo, fruto de uma cirurgia que removeu um grande tumor e boa parte de sua genitália, devem doer tanto quanto às da alma, pois ele foi uma criança que desde cedo teve que se acostumar com a ausência da mãe, que morreu de parto quando ele era pequeno, conviveu com atrocidades praticadas pelo pai, que hoje encontra-se foragido, teve que se virar desde adolescente para sobreviver, sua família sempre viveu em grave vulnerabilidade social, parentes que poderia acolhê-lo sofrem com problemas de alcoolismo, ou seja, Adriano cresceu sem muitos afetos e acolhimento, sem referencial de pais, e hoje, apesar do carinho das irmãs, ele não tem um porto seguro, não tem renda, não tem trabalho, não tem amigos, e a poucos dias, nem sua identidade era conhecida.

Apesar de calejado pela vida, ele desenha, tem traços delicados e contornos bem definidos, é educado, gentil até. A dureza da vida, não fez ele perder a ternura nos gestos. Com tanto sofrimento, ele ri pouco, muito pouco, por vezes, mantém o olhar fixo no horizonte como a perguntar o que farei, onde ficarei, como estarei amanhã, quem estará comigo? Perguntas tão simples para a maioria das pessoas, mas, que para ele tomam uma proporção diferente e ainda estão sem respostas a médio e longo prazo. Por enquanto, Luciana, tocada pelo dom da bondade e amor ao próximo, sentimentos que habitam pessoas especiais como ela, cedeu a sua casa, abriu o seu lar, para acolhê-lo nestes primeiros 45 dias fora do hospital. Mas, ela também precisa de ajuda. O Poder Público precisa fazer a sua parte. E nós, que integramos essa sociedade por vezes excludente, individualista e, por que não dizer, insensível, precisamos nos unir em prol dessa causa, contribuindo de forma coletiva e organizada para ajudá-lo.

Esse meu texto já é parte de minha contribuição, assim como foi a entrevista que fiz com ele que culminou na reportagem que possibilitou localizar seus familiares em Alagoas. Mas, eu quero mais. Vou coordenar junto com Luciana e todos os voluntários que abraçarem essa causa, uma grande campanha de mobilização popular para dar condições dele ter um lar, um emprego, assistência psicológica, condições de se manter dignamente e ser reconhecido e viver como um cidadão, como bem destaca a Constituição de nosso país, em seus vários artigos que tratam dos direitos de cada brasileiro. Quem se habilita a caminhar com a gente?

 

Eliane Sobral

Jornalista e Assessora de Imprensa do CHRDJC

Com Edição

 

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