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Esportes

Treinador deixa o Fla-PB e evidencia um cenário de caos e amadorismo

03/03/2012 às 17:03

Danilo Augusto é conhecido no Ceará como o “treinador dos times na UTI”, tamanho os desafios que já enfrentou ao longo de 45 anos de carreira (24 deles como técnico), mas nem mesmo toda esta experiência no futebol nordestino o preparou para o que ele encontrou no Flamengo Paraibano: um time de João Pessoa, que 'mora' em Santa Rita e treina em Sapé. Depois de deixar o clube na última quarta-feira, na véspera do jogo contra o Esporte de Patos (em que o time acabou derrotado por 4 a 1), ele fez revelações espantosas sobre o dia a dia do clube.

O treinador se apressa em dizer que teve uma “relação ótima” com todos os integrantes da diretoria, descritas por ele como sendo pessoas sérias e honestas. Mas que a falta de verba e a eterna espera por recursos que nunca chegam, levaram o clube estreante no Campeonato Paraibano de Futebol a um nível caótico jamais visto no futebol profissional.

Danilo Baratinha, técnico do Flamengo-PB (Foto: Renata Vasconcellos)Danilo Augusto, no dia de sua apresentação ao Flamengo-PB: caos jamais visto em 45 anos de carreira
(Foto: Renata Vasconcellos)

A situação mais vexatória foi registrada nesta semana. Depois do jogo contra o CSP, em que o time empatou em 1 a 1 e conquistou seu primeiro ponto na competição, o clube foi levado para Santa Rita, cidade vizinha à capital, para ficar concentrada até o jogo da quinta-feira, no Sertão do Estado. A descrição da casa em que eles ficaram é algo impressionante.

- Era uma 'casa esquisita' de apenas três quartos e um banheiro. A descarga estava quebrada e só tinha um ventiladorzinho velho. Colocaram lá 16 jogadores, que dormiam em colchões velhos no chão e se alimentavam mal, a base de marmitas – declara, se dizendo “vulnerável” com tudo o que viu.

O time está desmoronando. Se não chegar um grupo novo para ajudar os que lá estão, o clube não terá nem mesmo como terminar o campeonato"
Danilo Augusto

O técnico relata ainda que muitos dos jogadores estão há dois meses sem receber e que em várias oportunidades tirou dinheiro do próprio bolso para comprar comida e chip de celular, porque sem dinheiro os atletas algumas vezes não tinham o que comer e não tinham como falar com seus familiares que ficaram em seus respectivos estados.

- Vi muita gente triste. Os jogadores chegavam até mim, reclamavam da situação e diziam que não aguentavam mais aquilo tudo. Quase todos os jogadores querem abandonar o time. Não sou hipócrita. Como iria passar alegria para um elenco se eu mesmo estava triste? – prossegue.

Os problemas não pararam aí. Danilo Augusto diz que pediu para que a diretoria providenciasse um campo para que o time pudesse treinar, mas eles não conseguiram isto. Os jogadores então passaram toda a semana amontoados na casa, ociosos e sem treinar. Para piorar ainda mais, antes mesmo desta semana o Flamengo não teve dinheiro para inscrever os atletas que o técnico indicou para o time.

- Indiquei sete jogadores, mas apenas três foram inscritos. O resto ficou irregular porque faltou dinheiro. Todos iriam ser titulares, mas só fiquei sabendo disto na hora do jogo. Escalei o time que enfrentou o CSP no túnel, na hora da preleção. O zagueiro e o lateral direito que entraram como titulares me foram apresentados naquele momento. Não lembro nem mesmo o nome deles – revela.

torcedor solitário do flamengo paraibano (Foto: Renata Vasconcellos) 
Torcedor solitário do Flamengo-PB é visto nos jogos
do Paraibano (Foto: Renata Vasconcellos)

Por fim, Danilo diz que apesar de ter ganho “quatro bons amigos em João Pessoa”, se referindo aos dirigentes que comandam o clube, ele precisava dar um “grito de socorro”, para que as pessoas acordassem para a triste situação do Flamengo. Ele diz que apesar de tudo não se arrepende e que ficou muito triste em ir embora, mas fez o que racionalmente era preciso.

- Fiquei muito triste. Chorei no ônibus, na volta para Fortaleza. Sou guerreiro e vencedor e queria erguer aquele clube. Mas não me senti capaz de trabalhar sem uma estrutura mínima. Sem campo para treinar, com jogador dormindo e comendo mal e viajando de van, como poderíamos vencer? Fui embora. Porque dei minha cara para bater no início, mas não poderia continuar daquele jeito.

Danilo Augusto chegou ao Flamengo Paraibano no dia 17 de fevereiro, substituindo o técnico Washington Lobo, que já tinha pedido para sair por “discordâncias com a diretoria”. Realizou duas partidas como técnico, justamente contra os atuais campeão e vice-campeão paraibano. Perdeu para o Treze por 3 a 1 e empatou com o CSP por 1 a 1. Deixou a equipe no dia 29, doze dias depois de sua chegada.

- O time está desmoronando. Se não chegar um grupo novo para ajudar os que lá estão, o clube não terá nem mesmo como terminar o campeonato. Estou contando a realidade só por cima. Tem coisa muito pior que eu não posso contar sem denegrir ninguém. E isto eu não quero – finaliza.

Márcio Braga em entrevista à CBN João Pessoa (Foto: Cadu Vieira)
Carioca Márcio Braga é o padrinho famoso do clube
(Foto: Cadu Vieira)

Time tem padrinhos famosos

O Flamengo-PB foi fundado em 2011, com o objetivo de ser uma espécie de filial do xará carioca. Tanto que tem como padrinho o ex-presidente rubro-negro, Márcio Braga, que veio a João Pessoa no início do Campeonato Paraibano para assistir a estreia do clube na competição (derrota por 2 a 0 contra o Campinense).

O clube estreou em competições no ano de sua fundação, quando participou da 2ª divisão do Campeonato Paraibano. Começou mal a competição, que era disputada por apenas quatro times, mas depois se recuperou e na última rodada do quadrangular conseguiu a vice-liderança que lhe garantiu o acesso.

A ideia do presidente Ranieri Fonseca, por carregar o mesmo nome do Flamengo carioca, era contar com alguns jogadores enviados pelo time do Rio de Janeiro, mas a sonhada parceria nunca saiu do papel. O presidente queria também “pegar carona” na grande torcida do Fla “original” que existe em João Pessoa, mas isto também não deu certo.

A meta era realmente ousada. Tanto que no início de 2012 o campeão olímpico Ricardo, do vôlei de praia, foi nomeado como embaixador do clube. Eles queriam contar com a popularidade do baiano radicado há mais de 10 anos em João Pessoa para angariar apoiadores e patrocinadores para o projeto. Mas os esperados patrocínios também não foram fechados e o clube ficou sem dinheiro.

 

Fonte: GE/Paraiba

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