Conheça a história do padre Levi Rodrigues
Nenhum sacerdote foi mais dinâmico, polêmico, extrovertido e valente ao mesmo tempo, do que o Padre Levi Rodrigues de Oliveira. Nascido em 07 de dezembro de 1926, filho de Alexandrino Rodrigues de Oliveira e Mariana Alves de Oliveira, tendo como irmãos: Idelvito, Luíza, José e Nelson, o despertar para o sacerdócio aconteceu, ainda criança, enquanto ajudava ao Padre Nicolau durante as celebrações. Quando desenganado no hospital, após ter sido vítima de um acidente automobilístico, o ainda adolescente não demonstrava preocupação, afirmando que se morresse iria para o céu. Mais tarde, após ter sido curado em Recife, acabou ingressando no Seminário de João Pessoa, custeado pelo genitor.
Sobre as boas condições do pai e sua conseqüente vantagem com relação aos demais internos, declarava o Padre Levi: “eu passei 12 anos como o homem mais rico do Seminário, para onde segui em 1944, com 500 contos de réis. Nem Dom Moisés tinha esse dinheiro. Mandei fazer uma batina com a referida quantia, o reitor quis proibir e eu disse a ele que o dinheiro era meu. Como o meu pai era bem casado, toda a grana ficava nas mãos de minha mãe, que escondia grande parte na lata de manteiga e depois me dava. O que eu levei comigo assombrou João Pessoa”.
A ordenação sacerdotal aconteceu em 17 de dezembro de 1955, na Igreja de Nossa Senhora da Guia. Mesmo tendo trabalhado em Malta, Pombal, São José do Bonfim, além de ter sido pároco da Catedral de Patos e prestado serviços durante quase dez anos em João Pessoa, na Casa dos Pobres ao lado do Padre Zé, o Padre Levi conseguiu maior destaque como vigário de Santo Antônio, igreja construída com a ajuda dos seus pais e que teve como primeiro pároco, Manoel Dutra, responsável pela coberta do templo que veio a ruir, exatamente na época em que o jovem diácono concluía o curso no seminário e era convidado a assumir o referido posto. Sua primeira ação foi mandar confeccionar uma estrutura de ferro na Capital Pernambucana, suprindo o maior problema vivido naquele momento. Em seguida adquiriu os vitrais e mais tarde transformou a sua igreja na primeira do mundo em Bíblia, retratando em seu interior o novo testamento e no seu exterior o antigo testamento, com azulejos adquiridos no Estado de São Paulo. Vale salientar que o templo de Santo Antônio, na Cidade de Patos, é também o segundo do mundo em estilo, perdendo apenas para o que retrata a vida de Maomé, existente em Meca.
O ingresso do Padre Levi na disputa eleitoral aconteceu na década de 60, oportunidade em que prestava serviços sacerdotais no município de São José do Bonfim, em atendimento ao líder político João Dino que, segundo ele, havia sido ameaçado de morte por um dos candidatos de oposição e precisava desistir da disputa, sem, no entanto, deixar de ter um representante. O padre acabou se elegendo prefeito, tendo na pessoa do seu irmão, Idelvito, o seu vice.
Vale salientar que já havia uma participação forte do Padre Levi na Política de Patos, integrando o grupo que elegera prefeito o Dr. Olavo Nóbrega, do qual sempre teve a promessa de que seria o seu candidato na eleição seguinte, fato que obrigou a sua renúncia em São José do Bonfim, no ano de 1971, para poder disputar a chefia do Poder Executivo na Capital do Sertão. Contudo, afirma que fora traído pelos companheiros de luta: Olavo, Darcílio, Antônio Murilo e Ruy Gouveia, através de uma manobra arquitetada pelo então Governador Ernani Sátyro, que passou a investir alto na candidatura de Aderbal Martins de Medeiros.
A Campanha Eleitoral e a Passeata do Jumento
Há quem diga que se o Padre Levi tivesse sido candidato nos dias atuais e implementasse os mesmos procedimentos da campanha de 1972, no mínimo seria preso sem direito à fiança. Um dos pontos que reforça a afirmação está situado na passeata dos jumentos que realizou, por proposta de Beca Palmeira e que chamou a atenção da imprensa internacional. “Me entusiasmei com a idéia e fui a Santa Luzia onde tinha um circo armado em busca de um urso branco (apelido de Ernani Sátyro), um leão (que quase pega Zé Gayoso, vestido de branco e montado a cavalo em frente à Ação Católica), um pavão e daí por diante o povo trouxe de tudo, até muriçocas em garrafas, tornando a manifestação em um verdadeiro zoológico, sem muita lógica, ambulante. Muitos países do mundo publicaram a matéria: Rússia, França, Inglaterra”. Mais tarde, Levi teve passagens aéreas e estadias custeadas, para comparecer aos estúdios de TV no sul do país, simplesmente, para falar sobre o evento dos animais.
Muitos eram os insultos levados a efeito entre os candidatos, contudo, nenhum mais forte do que aqueles idealizados por Levi. Podemos relembrar, por exemplo, que ao final de cada programa de rádio ele sempre pronunciava: “Tchau Aderbal, Xexéu Durval”, ironizando os nomes dos dois outros concorrentes. Em resposta foi feita uma música que em sua letra respondia ao padre: “Se aqueta Lelé, deixa de zum, zum, zum, pega teu Xexéu leva pra Jerimum”. Jerimum era o antigo nome de São José do Bonfim, que foi governado por Padre Levi.
Com a derrota para Aderbal, o que causou uma verdadeira surpresa na cidade e, inclusive, com suspeitas de fraudes, Levi voltou as disputas dois anos depois e conseguiu se eleger no mandato de deputado estadual, permanecendo por quatro anos na Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba. Relata, porém, que pelo fato de fazer oposição ao Governo do Estado, conseguiu apenas apresentar projetos, requerimentos e outros procedimentos específicos da tramitação legislativa.
Como padre, Levi também esteve ausente do Estado, notadamente nos períodos de fracasso eleitoral, tendo passado uma temporada no Rio de Janeiro, Niterói e Rio do Ouro. Relata, sua indignação por certos tratamentos que lhes eram dispensados pelos dirigentes maiores de sua Igreja. Para ele os padres estão excluídos dos direitos humanos e relembra a frieza de Dom Eugênio Sales, ao se apresentar e pedir um espaço na Capital Carioca. A mesma coisa teria acontecido com Dom Pereira, Bispo de Campina Grande e Dom José, Bispo de João Pessoa.
Com relação a pontos pitorescos que realmente surgiram do comportamento peculiar de Padre Levi, o qual sempre se considerou um democrático acanalhado, podemos relembrar alguns acontecimentos. O primeiro deles decorreu de uma decisão do pároco de Belo Horizonte que em um determinado período proibiu os pais de levar as crianças para a igreja. Aproveitando a ocasião ele apregoou aos quatro cantos da cidade que levassem os baixinhos para o seu templo e durante as celebrações insuflava os meninos: “chupem confeito, brinquem e comam pipoca que amanhã eu mando varrer a igreja”. Tal iniciativa foi motivo de uma discussão durante uma reunião do clero, só resolvida com a intervenção do bispo que mandou acabar a proibição.
De outra vez uma senhora de Salgadinho, fã das suas práticas, pediu que o Padre Levi celebrasse uma missa em homenagem a um parente. Ele manteve contato com o pároco, por sinal de nacionalidade holandesa, do qual teve a prévia autorização, mas, antes da data, o referido colega resolveu proibi-lo, através de um comunicado oral em uma das igrejas de Patos, momento em que estava sentado no confessionário, atendendo os fiéis na Campanha da Fraternidade com outros padres da Diocese. Por pirraça, o sacerdote patoense disse que não abriria mão e recebeu gritos em troca o que chamou a atenção de muitos fiéis presentes. Palavras de Levi em resposta: “Se levantar eu meto-lhe o braço, cabra sem vergonha”. A única iniciativa do holandês foi comunicar ao Bispo que chamou Levi a sua presença e pediu esclarecimentos. Depois de narrar o fato, o pároco de Santo Antônio disse a Dom Expedito: “Mande prender aquele cachorro, senão eu bato na cara dele dentro da igreja e Vossa Excelência não tente empatar porque nesse caso não obedeço nem ao Papa”. O certo é que Levi foi a Salgadinho e fez a celebração.
Por conta do bingo de 05 veículos, promovido em prol da paróquia de Santo Antônio, o Padre Levi acabou agredindo fisicamente um Juiz de Taperoá, Dr. Severino, que determinara a suspensão da publicidade, mesmo depois de ser informado que o referido evento havia sido liberado pelo Ministro da Justiça. O diálogo entre o padre e o magistrado, do qual chegou a ser contemporâneo no seminário, foi o seguinte:
Padre Levi - Olá Severino!
Juiz - Severino não! Dr. Severino. Até minha mãe é pra me chamar assim.
PL- Pois não, Dr. Severino, esse bingo aí é meu...
J- Aqui não tem meu nem seu. Aqui tem lei.
PL- Mas eu tenho ordem do ministro.
J- O ministro manda no Rio de Janeiro. Aqui mando eu.
PL- E o governador?
J- O governador manda na capital. Aqui quem manda sou eu.
PL- E o desembargador?
J- Manda no tribunal. Aqui sou eu.
PL- Pois diga uma autoridade, acima da sua a quem eu me dirija, uma vez que eu já fui a Patos, Campina, João Pessoa, Rio de Janeiro e não achei.
J- Não existe.
PL- Nosso Senhor Jesus Cristo, como vai, eu não estava lhe reconhecendo.
J- Você está me desrespeitando dentro da minha casa. Retire-se.
PL- Retire-se o que negro sem vergonha. Eu vou vender cartelas aqui na sua cara e se mandar me prender eu meto-lhe a mão.
O Padre foi aconselhado pelos amigos, a guardar o revólver que sempre conduzia, mas não deixou de autorizar a divulgação, o que irritou ainda mais o Juiz, que mais tarde o procurou em companhia do delegado, lhe dando voz de prisão e tendo em resposta um baita de um soco na cara, desferido pelo braço direito de Levi. Posteriormente, o Governador João Agripino acabou afastando o referido magistrado de suas atividades.
Muitas outras façanhas são registradas na trajetória do Padre Levi Rodrigues de Oliveira, que para algumas pessoas não concorda com o celibato, fato que não foi cogitado durante a entrevista concedida em 2004. Contudo, pelos acontecimentos já noticiados, não existem dúvidas de que ele está por demais fincado como uma das figuras de destaque na história de Patos.